Os objectivos do milénio serão cumpridos na sua maioria por Cabo Verde, o único país africano da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) a consegui-lo, segundo o presidente do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD).
“Com excepção de Cabo Verde, onde os objectivos do milénio serão na maioria e no seu essencial cumpridos, nos outros falta um combate mais real à pobreza”, disse Manuel Correia em declarações à Lusa, quando se cumprem 10 anos da assinatura da Declaração do Milénio, onde constam os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (combate à pobreza extrema e à fome; ensino primário universal; políticas de igualdade do género; saúde materna; combate a doenças graves; sustentabilidade ambiental e parceria global) a cumprir até 2015.
O Presidente do IPAD fundamenta que “na maior parte desses países ainda há franjas significativas da população a viver abaixo do limiar da pobreza e, quando é assim, é difícil dizer qual o objectivo em falha, porque são todos”.
As situações são diferentes em cada país, mas as maiores lacunas, detectam-se na saúde, pobreza e combate à fome. “Prendem-se umas com as outras e derivam da pobreza extrema”.
Na cooperação para o desenvolvimento onde há “mais para fazer é na área da educação porque só com as pessoas educadas é possível ganhar o desenvolvimento”, sustentou.
Manuel Correia apontou avanços importantes nalguns países da CPLP, como Angola, porque “tem uma disponibilidade financeira diferente dos outros” e Timor-Leste, que começa a ter receitas do petróleo que permitem uma cooperação mais eficaz.
“No caso da cooperação do IPAD, com Angola entrámos numa nova fase”, referiu Manuel Correia, exemplificando com um dos projectos mais emblemáticos, o “saber mais”, na área da Educação (formação de professores), “que já é pago a meias”.
“Seja em Portugal, na Noruega ou num país em desenvolvimento, quando temos de por do nosso dinheiro, damos mais importância e somos mais críticos em relação à forma como a cooperação se pode desenvolver”, o que já está a acontecer em Angola e “também vai acontecendo em Timor”.
No caso de Moçambique, o presidente do IPAD pediu aos doadores que continuem a ajudar o país, defendendo que situações como a que ocorreu na semana passada em Maputo, as manifestações contra a subida dos preços, “ultrapassam-se com o desenvolvimento, lutando para que o país se desenvolva o mais rápido possível, o que depende fundamentalmente dos moçambicanos, mas também da ajuda internacional”.
Muito diferente é a situação da Guiné-Bissau, que “nunca foi um ´darling country´ou país querido” pela comunidade internacional, diz Manuel Correia, referindo-se a uma distinção normalmente feita pelos países doadores, que rotulam uns e outros Estados de “orphan countries” ou “darling countries”.
A instabilidade governativa e militar na Guiné-Bissau tem “repercussões”, porque o país “não dá condições aos doadores e, pior, ao investimento estrangeiro”.
“O desenvolvimento não se faz sem tecido empresarial. Os investidores têm medo de apostar e isso tem impacto directo”, na falta de pagamento de salários dos funcionários, por exemplo, mas pior ainda na “capacidade de assumir compromisso perante técnicos e compromissos internacionais”.
Portugal, França, Brasil e, nalgumas coisas, Angola são, assim, os “poucos países sob o ponto de vista da cooperação bilateral” a actuar na Guiné-Bissau.