segunda-feira, 18 de outubro de 2010

LATÃO POR OURO?

Nestes últimos dias temos mais uma sondagem do MpD a tentar virar o bico ao prego. Mais uma, porque tinha sido essa a estratégia de 2001, do famigerado tempo de “quem fez fará”, quando todas as sondagens nacionais davam expressiva vitória ao PAICV. Nessa altura, os ventoinhas mandaram publicar uma duvidosa sondagem que dava vitória ao MpD em todas as ilhas, estranhamente vinda de Dakar! Na altura, o zelo foi tão excessivo que se falava de três deputados em círculo de dois... Os resultados concretos dessa eleição, sabemo-los todos...
Temos, ainda, a afirmação pública e peremptória de Carlos Veiga, quando confrontado com o facto de sucessivas sondagens darem uma significativa vantagem ao PAICV e a José Maria Neves, em comparação com o MpD e ele, Carlos Veiga. O líder ventoinha, na altura, disse: “Não as publicamos porque elas são instrumentos de trabalho e nós, não queremos entregar o ouro ao bandido, como se diz.” (SIC). O que levou o MpD a “autorizar” a publicação dessa sondagem por ele encomendada e a arriscar, assim, de pé para mão, a “dar o ouro ao bandido”? Mistérios insondáveis dos rabentolas...

Até não duvido que se tenha feito sondagem. A empresa portuguesa que a realizou, cujo nome foi divulgado, criada em 2008, tem o seu site a que todos podem aceder e avaliar da sua experiência no ramo. O que deixa carradas de dúvidas é a veracidade dos resultados. Parecem calefetados pelo cliente... Senão vejamos; para além da desconfiança que deixa ao cidadão atento, a contradição do líder, do publica-não-publica, como muito argutamente me apontou uma camarada minha que leu o artigo do Expresso das Ilhas-versão papel, (eu acedi à versão on-line), o gráfico que representa os resultados divulgados é uma peça intrigante: a secção, em amarelo, que corresponde ao score do PAICV, é maior que a secção, em verde, que corresponde ao score do MpD mas, por artes de prestidigitação, a percentagem do PAICV é inferior ao do MpD (?) Outrossim, segundo os números avançados na notícia, a diferença entre os dois partidos é tão pequena (0,8%), que, a termos um gráfico que represente deveras esses scores, dificilmente se poderia ver a diferença de superfície entre as duas secções, a olho nu... Gato escondido com rabo de fora?

A ficha técnica, espalhada em parágrafos na notícia on-line, refere-se a uma sondagem feita em ilhas? Quais? Não é, tecnicamente, questão de somenos... Ou não revelar as ilhas é para não se dar o “ouro ao bandido”? “A amostra foi estratificada por ilha e a escolha dos entrevistados foi aleatória”, diz-nos a notícia on-line. Na nossa modesta opinião, temos alguma dificuldade em compaginar uma “amostra estratificada por ilha”, conjugada com a “escolha aleatória” dos inquiridos, com “o erro máximo da amostra (...) de 2,2 por cento” (baixinho...). É que “as margens de erro declaradas (…) são baseadas em fórmulas de amostragem aleatória simples, a conhecida variância pq/n. Mas esta variância não se aplica à amostram por quotas ou a qualquer método de amostragem não probabilística” (CARVALHO, José Ferreira de, FERRAZ, Cristiano, A Falsidade das Margens de Erro de Pesquisas Eleitorais, Baseadas em Amostragens por Quotas” in, http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/32729/31926).

Qualquer leitor atento nota um (conveniente) equilíbrio entre os scores do MpD e do PAICV e os de José Maria Neves e de Carlos Veiga. Como para criar o ânimo às hostes do MpD. Estou a ver o filme. “vejam lá, já os ultrapassamos, mas por uma unha negra! É preciso batalharmos para os ultrapassar de vez!”

Mas, também, os resultados da encomenda ventoinha são díspares dos do estudos de opinião que a AFROSONDAGEM, organismo independente, realizou igualmente em Setembro, na sequência de outros que dão, sempre, a vitória ao PAICV e a José Maria Neves. Cito o extracto da publicação da própria instituição:

“O indicador tendência de voto, i.e., a proporção de votos excluindo os indecisos e os eleitores que não votariam em nenhum dos partidos, mostra que o PAICV renovaria a sua maioria absoluta com 54,6% dos votos contra 39,8% do MpD. A UCID atingiria 5,6% dos votos expressos. Relativamente à última sondagem da Afrosondagem, o PAICV ganharia quase 1 ponto percentual, o MpD perderia cerca de 2 pontos percentuais e a UCID ganharia quase 2 pontos percentuais. A diferença entre o PAICV e o MpD, no indicador de tendência de voto, seria agora de 15 pontos percentuais, mais 3 pontos que em finais de Abril corrente.”

Como conciliar os resultados de vários estudos de opinião, realizados por entidades independentes e que deram a cara na comunicação social, onde o PAICV e José Maria Neves são sempre favoritos da maioria dos cabo-verdianos, face ao MpD e Carlos Veiga, onde a governação de José Maria Neves e ele como Primeiro-ministro são muito bem avaliados, com esses resultados de uma sondagem encomendada pelo MpD? Não será caso para se dizer que se quer vender latão por ouro?

Mas, fico na minha, não vale a pena muito barulho à volta dessa mise-en-scène: as sondagens ajudam mas não ganham eleições! No caso concreto do PAICV, tem todos os trunfos para ganhar as próximas eleições legislativas porque cumpriu e está a cumprir com o compromisso que firmou com os cabo-verdianos ao submeter a sua Moção de Confiança ao escrutínio parlamentar quando formou governo em 2006, assim como tinha cumprido o de 2001, quando encontrou a casa desarrumada. Com a governação do PAICV, Cabo Verde está a transformar-se, está a ganhar, está a mudar a um ritmo dantes nunca visto. Quem não mudou é a liderança ventoinha, ancorada nos anos 90, ressabiada, fechada sobre si mesma, com um discurso catastrofista, não deu conta do quanto o país cresceu e amadureceu. A prova é que voltou à cantiguinha que deu frutos em 90 (nada ka fazedu). Pagam-se caro essas “distracções”...

Mário Matos marzim54@gmail.com

Sem comentários:

Enviar um comentário