terça-feira, 10 de novembro de 2009

LINCHAMENTO POLITICO: QUEM SEMPRE USOU ESTA ARMA

A recente acusação proferida, no Parlamento, pelo Ministro da Administração Interna, Dr. Lívio Lopes, de que “a estratégia do MpD era a de alimentar focos de tensão, delinquência juvenil e criminalidade urbana” motivou reacções das mais estapafúrdias por parte da Bancada ventoínha.
No entanto, para muitos analistas da Praça tal afirmação não poderia ter sido feita em melhor ocasião, pois já estava mais do que na hora de o MpD clarificar, sem tibiezas, a sua verdadeira atitude perante a questão da segurança nacional, pois “fica difícil entender um Partido que passa o tempo todo a falar de insegurança, mas ao mesmo tempo, não viabiliza as principias leis que tenham por objectivo por cobro a situações de delinquência juvenil e criminalidade”.
Mas em toda essa polémica o que acabou por ser mais caricato foi, sem dúvida, a reacção do líder da Bancada do MpD, Fernando Elísio Freire, que na ânsia de tentar tirar o máximo proveito da ocasião, exagerou na construção de um cenário de vitimização, acabando por dar um tiro no próprio pé. É que Fernando Elísio classificou o pronunciamento do Sr. Ministro Lívio Lopes como “uma tentativa grosseira de linchamento político do seu Partido” e, automaticamente, exigiu, por parte do Primeiro-Ministro, Dr. José Maria Neves, “a tomada de medidas que reparassem a honra dos Deputados, militantes, simpatizantes e amigos do MpD”. Só que perante semelhante arroubo, o Líder da Bancada do PAICV teve que lembrar ao Sr. Fernando Elísio que o linchamento político tem sido sempre uma arma recorrente do MpD ao longo da história passada e presente destas ilhas. Nos anos 90, por exemplo, foi o MpD quem tentou usar o processo de profanação das igrejas católicas para transformar o PAICV numa associação criminosa e, posteriormente, ilegalizar o Partido tambarina. Aliás, esta intenção de banir o PAICV do cenário político cabo-verdiano ficou bem plasmada no tristemente célebre artigo dado a estampa num dos números do extinto “Jornal Voz di Povo”, sob o sugestivo título “A ternura pelo inimigo” e assinado por um dos principais ideólogos do movimento.
Mesmo tendo o PAICV assumido os destinos de Cabo Verde, em 2001, o MpD nunca pôs de lado esta “forma de luta” altamente tenebrosa e perversa. O que mudou foi apenas a estratégia: já que se tinha revelado de todo impossível erradicar o PAICV da cena política cabo-verdiana, convinha então atacar toda e qualquer personalidade bem sucedida, afecta ou que tivesse qualquer tipo de simpatia por esta força política. Neste sentido, lembramos a cabala sórdida e imoral urdida à volta de um ex-ministro das Finanças dos governos do PAICV. E o que dizer dos ataques “terroristas” perpetrados pelos “rabentolas” contra o actual PCA da Bolsa de Valores, Veríssimo Pinto? Aqui caberá perguntar ao Sr. Fernando Elísio o porquê de ele nunca ter pedido a reparação da honra destas e de outras personalidades vilmente afrontadas nos órgãos de comunicação social a serviço do seu Partido. Será que quem é militante, amigo ou simpatizante do PAICV não tem direito a reparos de honra? A uma boa imagem? Então, por que carga d´água Vossa Excelência nunca dantes tinha falado sobre este assunto?
E, mais recentemente, o País foi surpreendido com o discurso sinistro e altamente preocupante do Dr. Carlos Veiga no encerramento da IX Convenção do MpD. Por um lado, porque ele deixou ameaças graves de revanchismo, prometendo, caso vier a ganhar as próximas eleições (cruz credo!), ajustar contas com dirigentes, militantes e eleitores do PAICV a quem qualificou de “lobos vestidos com pele de cordeiro” e completar, de vez, o trabalho que ficou inacabado nos anos 90! Isto em pleno século XXI e num País democraticamente consolidado! Por outro lado, porque prometeu, caso vier a ser Governo depois de 2011, “estar aberto ao aprofundamento do diálogo com os adversários”, até porque “os verdadeiros inimigos do MpD são a pobreza, o desemprego, o atraso, a incultura, o crime”.
Contraditório e altamente desconexo a verborreia lançada por Carlos Veiga, configurando um quadro notável de confusão mental. Afinal de contas em que é que ficamos? O Sr. vai ou não concretizar a ameaça de transformar Santa Luzia num “Arquipélago Gulag” para onde enviará todos os seus desafectos? O Sr. irá “aprofundar o diálogo com os seus adversários” (diga-se gente do PAICV) depois de acabar com todos eles? São algumas questões que ficam no ar.
Por: Jorge Garcia

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