sexta-feira, 9 de abril de 2010

PRINCÍPIO OU FIM DO CICLO POLÍTICO?

Face ao avalanche de teses ultramodernas que circulam no nosso país relacionadas com o que se convencionou chamar de “ciclos políticos”, produtos de uma engenharia de marketing político, cujo móbil é, quiçá, transformar as teorias e técnicas universalmente aceites em armas de combate político, sinto-me obrigado a questionar sobre as verdadeiras intenções subjacentes a tais descobertas.
Os estudiosos do fenómeno político, seja analistas políticos, homens da sociologia ou outras áreas afins, ao analisarem os ciclos políticos têm sempre em devida conta a natureza e essência dos ciclos, a dimensão temporal, os factores objectivos e subjectivos inerentes a estes períodos, bem como as premissas sociais e o quadro macro económico de um determinado país e ainda um leque de variáveis qualificativos. Mas nem por isso afirmam e nem devem fazê-lo, que a duração média dos ciclos políticos é de dois ou três mandatos de governação e uma vez decorrido esse tempo, o partido que estiver no poder deve ceder lugar a um outro porque o ciclo político do primeiro teria esgotado. Que absurdo!
Portanto, não entendo a teia de confusão que se pretende lançar, segundo o qual o PAICV está no fim do ciclo político e, por isso, deve, automaticamente deixar a governação do país. Se assim for, imperativo será a alternância política e desnecessários serão as campanhas e embates eleitorais. A democracia não é um jogo de partilha de poder; uma mera função aritmética dos ciclos de poderes com as suas contradições, interesses e virtudes.
No caso de Cabo Verde, o governo no poder, quiçá, fugiu à regra dos supostos e imaginários teóricos dos ciclos políticos, considerando a variável governação do país. Um partido de boa governação, que conseguiu consolidar as contas do Estado que vinham arrastando desde a década de noventa; que conseguiu trazer para o país o MCA, por duas vezes consecutivas, facto impar no nosso continente e no mundo; que infra estruturou o pais de Santo Antão a Brava; que construiu escolas e liceus em todos municípios e melhorou substancialmente a situação dos professores; que revolveu as políticas sociais, introduzindo, por exemplo, as pensões sociais para os mais carenciados; que embutiu grandes reformas no sector da saúde, aliado à construção de centros de saúde modernos; que moralizou a gestão das finanças públicas; que notabilizou-se pela gestão das políticas macro económicas, não pode e nem devia estar à beira do fim do ciclo como alguns andam a pregoar desesperadamente pelas ilhas e na diáspora.
Não me parece que os cabo-verdianos gostariam de ver algumas missões diplomáticas cruciais para o desenvolvimento deste país a arrumarem as suas malas para nos deixar. Também, estou certo que não gostariam de ver os nossos diplomatas e estudantes a dependerem de transferências casuísticas dos seus salários e bolsas de estudo num regime de quando calhar.
Em abono da verdade, a mudança do governo em 2001 deveu-se, sobretudo ao estado lastimável e caótico que o país conheceu, caracterizado por uma gestão pública desastrosa e pouco transparente. O governo de então, como publicou um semanário da praça, foi para “o fundo do tacho” .sem alternativas, andou ao reboque das marés ingratas, onde o desemprego, a crise de confiança e de oportunidades, a falta de opções económicas para os operadores económicos, eram uma constante.
Outrossim, na década de noventa as convulsões sociais eram gritantes, devido aos atrasos sistemáticos, e sem dia de largada, para os funcionários e trabalhadores perceberem os seus vencimentos e salários. Aí sim era o fim do ciclo político. A governação da década de noventa de per si reclamava pela mudança do ciclo político e a sociedade apenas reagiu em consonância com as condições do momento.
Se hoje Cabo Verde é páginas de jornal a nível internacional e goza de alto prestigio no mundo é devido à ética, seriedade que consubstancia na boa governação do país. O governo do PAICV, sob a liderança de José Maria Neves, merece de facto esses reconhecimentos pela sua proeza. Reduziu para cerca de metade a taxa de desemprego que encontrou; fez crescer a economia, mesmos em tempos de crise a níveis superiores a de muitos países, por exemplo do nosso continente. E não é à toa que mais de 70% dos cabo-verdianos avaliam positivamente o trabalho deste governo.
Cabo Verde precisa sim de um novo ciclo de governação para aprofundar as reformas nos mais diversos domínios; acelerar a transformação económica; realizar um “up grade” da sociedade e das instituições; qualificar o capital humano, ou seja de ciclo de transformação da economia, para melhorar a qualidade de vida de todos os cabo-verdianos.
Este novo ciclo de governação será, com toda a certeza, para projectar a nova década que se aproxima, recheada de uma visão do futuro clara e mobilizadora de toda a sociedade, e como disse o Presidente do PAICV, que permite “ construir um Cabo Verde competitivo, democrático, com coesão social e qualidade ambiental”. Difícil é acreditar que um partido como o PAICV, portadora de uma visão, estratégia, agenda para o futuro e obra feita tenha esgotado e chegado ao fim do ciclo. “ke li Nhu Nachu ka flaba”.

Euclides Eurico Nunes de Pina

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