sábado, 15 de maio de 2010

O SINDICATO LIVRE E O 1º DE MAIO

Este ano, o 1º de Maio, Dia dos Trabalhadores, foi ocasião para o Sindicato Livre, mas que pela sua postura, não deixa de ser uma associação política na oposição, descarregar com a toda fúria contra o Governo e alguns ministros a começar pelo Premier. É que o seu presidente, José Manuel Vaz, imbuído de pressentimentos de perseguição, ataca a todos, metendo no mesmo saco, governantes, autoridades policiais, juízes, responsáveis de instituições financeiras, gestores públicos, enfim, todos os que, de uma forma ou de outra, “têm atravessado o seu caminho”.

Enquanto em São Filipe, Fogo, os caboverdianos rendiam-se às “ saburas” de uma das melhores festa do 1º de Maio, organizada na Ilha, segundo a opinião de vários participantes, na Cidade da Praia, Capital do País, assistíamos o show do presidente da CCL, tentando mostrar que Cabo Verde, no seu entender, está “de cabeça para baixo e pernas para o ar”. Ideias que o acompanham há já algum tempo e que o levaram a afirmar sem qualquer receio “que o país está falido e sem perspectiva, “que o país vai mal” e que “a economia está a arrebentar pelas costuras” e coisas do género.

Que tristeza. Senhor José Manuel Vaz. Se assim fosse o próprio senhor não teria toda essa liberdade e possibilidade de subir ao púlpito (também de cabeça para baixo) para denegrir a imagem e por em causa o bom-nome de pessoas com altas responsabilidades nesta terra, da forma como está fazendo.

Como cabo-verdiano atento às epopeias políticas e o jogo de “gato e rato”, protagonizadas por certas “filiações políticas”, escudadas sob o manto de defensores de direitos dos trabalhadores, gostaria de lavrar o meu repúdio, com toda a veemência, contra um discurso de ocasião proferido pelo senhor José Manuel Vaz, na qualidade de presidente da CCL, no Dia 1º de Maio. Como eu, certamente, muitos trabalhadores esperavam ouvir e presenciar um catálogo recheado de actividades para celebrar esse dia, quão importante na vida da classe trabalhadora, marcada por avanços extraordinários em termos de condições laborais, direitos e regalias, entre outros ganhos.

Esperava ainda ter notícias de realizações de jornadas de reflexão e de formação, nas quais seriam explicados, sobretudo aos mais jovens que todavia desconhecem o verdadeiro significado dessa efeméride tanto a nível do país como mundial, os motivos que nortearam a escolha do primeiro de Maio como sendo dia dos trabalhadores, a história e o papel dos sindicatos caboverdianos e não só. Ao invés disso, o senhor Presidente do sindicato livre, quis emprestar o ar da sua graça, para esconder o falhanço na celebração do dia de festa dos trabalhadores, denunciando supostos casos que ultrapassam as competências sindicais e acusando de forma gratuita dirigentes e instituições do Estado.

É pena que o Sr. presidente da CCL, tenha motivos de queixas de uns e de outros não. Falou de viaturas de luxo adquiridos por governantes e gestores públicos, sem sequer fazer menção à frota exagerada de VX e prados que edis da oposição deram de prenda a si próprios e aos seus vereadores. Dois pesos duas medidas…. Não acha.

Ainda na linha das intervenções de dirigentes ventoinhas, vem o Sr. José Manuel Vaz ameaçar com queixinhas na OIT, contra as actuações do Tribunal em São Vicente e exigindo medidas urgentes…. Que medidas Sr. José Manuel Vaz? Imperar o trabalho da Polícia Judiciária, da Polícia Nacional e do Tribunal, e embrulhar o Governo nas investigações como tentaram fazer alguns dirigentes da oposição para desviar a atenção?

É este mesmo Governo que o senhor anda a achincalhar que recebe frequentemente menções positivas e encorajadoras de organizações internacionais idóneas, pela proeza de boa governação, transparência, seriedade e trabalho. Um Governo que tem sabido liderar o destino do país com mestria suficiente e necessária. A assinatura do segundo pacote no âmbito do MCA é prova sintomática da boa governação do país, mas que, por motivos inconfessos, o senhor José Manuel Vaz e seu sindicato recusam em aceitar a verdade. Pois é, como se costuma dizer, utilizando a linguagem bíblica: “a verdade é sempre escandalosa para os fariseus”.


É estranho que agora o senhor José Manuel, presidente do Sindicato Livre, tenha criteriosamente seleccionado os ex trabalhadores da EMPA, Justino Lopes e professores como arma de combate cerrado contra o governo do PAICV. O estranho e ridículo seria se tivesse ficado mudo e surdo já que o seu sindicato não teve a ousadia e a capacidade de organizar coisa alguma para brindar aos trabalhadores nesse dia.

Relativamente à extinta EMPA não me lembro, na década de noventa, altura em que a empresa foi punhalada mortalmente, embora só veio a ser enterrada anos mais tarde, ter ouvido gemido do senhor José Manuel Vaz. Me dá a sensação que naquela década o seu sindicato não existia ou então todavia não tinha ganho a sua total “liberdade” e, portanto, preferiu o silêncio contra o abuso de poder de um governo que fez história com a prisão arbitrária e julgamento de sindicalistas numa greve de jornalistas; que decretou requisições civis em reacção a greves de marítimos em Março de 1993; a dos controladores de tráfego aéreo, em 1995; a dos estivadores do Porto Grande em São Vicente, em 1996; a dos trabalhadores da ENACOL na Praia, em 1997; a dos trabalhadores de Arca Verde, em 1999, para só citar alguns.

Como deve estar lembrado a lista de violação dos direitos sindicais é longa. De 1991 a 2000, há muito que contar. A intromissão directa dos membros do Governo de então e de seus conselheiros na vida sindical era uma constante, quer através de ataques nos órgãos de comunicação social do estado, quer através da perseguição a dirigentes sindicais e a trabalhadores. Como bom sindicalista, o senhor presidente deve estar lembrado mais do que qualquer um das intervenções de forças policiais e militares nos locais de trabalho para impedir greves de trabalhadores da ELECTRA na Ilha do Sal, na Interbase em são Vicente, na ENAPOR na Praia, assim como de manifestações pacificas à frente do Palácio do Governo em Dezembro de 1995 e outras.


Não tenho gravado na memória, e peço as sinceras desculpas se estiver errado, qualquer acção do seu sindicato e muito menos de si a favor dos trabalhadores da EMPA. A propriedade que a empresa possuía no Paraguay foi vendida e não se sentiu qualquer actuação do senhor e do seu sindicato em nome dos interesses dos ex trabalhadores. Na mesma senda, investimentos de milhares de escudos na compra de uma extensa área de terreno em Guiné Konacry ficaram em vão. E nessa década o sindicato não era livre?

A EMPA perdeu, lamentavelmente, cerca de dez mil contos na compra de acções na Telecom e até hoje ninguém sabe do paradeiro desse dinheiro e a EMPA não figura da lista de accionistas da Telecom. O senhor e seu sindicato perderam, por razões que des- conheço e nem estou interessado em conhecê-las, a oportunidade de defender esses trabalhadores.. Onde esteve o sindicato livre nas horas difíceis para os ex funcionários e trabalhadores da EMPA; Justino Lopes, Inforpress, Voz di Povo e de professores do Ensino Básico, bolseiros, diplomatas, doentes evacuados, cujos salários e subsídios percebiam com meses de atraso.

Que eu saiba o senhor e seu sindicato, durante o desgoverno do MpD, optaram-se pelo emudecimento. E hoje armam-se em guardiões e promotores dos direitos dos trabalhadores quando há alguns anos atrás não tiveram a suficiente coragem de defender os seus próprios colegas sindicalistas das barras do tribunal.

Creio que o Sindicato Livre só agora, com esse governo no poder, pode denunciar e anunciar livremente, como um peixe na água, e sem medo de torturas e perseguições os pré avisos de greves e outras formas de luta de fórum sindical. Mas todo o cuidado é pouco, porque por esse andar da carruagem, o seu sindicato está a desacreditar livremente e seus sócios buscarão outras filiações. Viva a liberdade! Via o 1º de Maio.

Euclides Nunes de Pina

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