sexta-feira, 30 de outubro de 2009

POR UMA VERDADEIRA POLÍTICA CULTURAL PARA A CIDADE DA PRAIA: BREVE ANÁLISE DO PROGRAMA DE GOVERNAÇÃO AUTÁRQUICO 2008-2012.

Qualquer Cidade moderna e cosmopolita deve ter uma vida cultural intensa e diversificada.
O poder autárquico, os munícipes, os agentes culturais da nossa cidade, etc., todos reconhecem a inexistência de uma verdadeira política municipal para a cultura. A cultura tem sido visto, de forma generalizada, pelos elencos camarários (um pouco por todo o país) como sendo uma actividade secundária e que se resume muitas vezes a realização de festivais e a promoção de eventos pontuais, casuísticos e sem grandes planificações.
Pensamos que é preciso e é possível alterar este quadro e dar assim a cultura a oportunidade de ser um dos pilares do desenvolvimento local.
O programa de governação para o Município da Praia sufragado nas últimas eleições autárquicas dedica algumas linhas a esta questão que conjugado com um ano e quase seis meses de mandato dá para fazermos um balanço entre o programado e o já realizado.
O programa começa por fazer um diagnóstico do estado da cultura na nossa Cidade e em seguida elenca propostas para um conjunto de áreas que aqui propomos analisar com algum pormenor, apresentar o nosso ponto de vista sobre os mesmos e propor alternativas que possam melhorar a sua implementação.

Criação do Museu Municipal
O programa prevê a construção do Museu da Cidade da Praia, atribuindo-lhe a “…função de preservar a memória colectiva da Cidade, colectar, classificar e expor os utensílios da vida quotidiana, documentos e objectos das várias instituições sedeadas na Cidade…”. E ser assim um pólo de atracção turístico.
Ao nosso ver pensamos que pode-se e deve-se ser mais ambicioso. Propomos a construção de raiz de um verdadeiro Museu da Cidade que possa ser, do ponto de vista arquitectónico, um dos ex-líbris da Capital e que seja o orgulho de todos os praienses. Somos de opinião que se deve optar pela criação de um Museu de Arte Contemporânea de forma a dinamizar a produção cultural local, e que seja um espaço que possa receber espectáculos, exposições itinerantes através de convénios e protocolos com museus municipais e artistas de outros países. Acima de tudo gostaríamos que fosse um verdadeiro espaço de projecção dos artistas plásticos da nossa cidade. Porém, quando faltam dois anos e seis meses para o fim do mandato ainda não ouvimos nenhum pronunciamento público da câmara sobre futuro Museu Municipal. Tal proposta lamentavelmente não entrou nos planos de actividade da CMP para os anos 2009 e 2010. Daríamos por satisfeitos se ao menos fosse anunciado a elaboração do projecto arquitectónico, possível localização, etc.

Bienal de artes e feira de artesanato da Rota da escravatura
A institucionalização de uma bienal de artes e artesanato seria importante para a Cidade mas pensamos que não se justifica limita-lo apenas à aspectos culturais ligados à rota da Escravatura. Pode-se definir o tema principal para cada edição em função da pertinência do mesmo e do contexto da própria época que tal venha a acontecer. Seria uma forma importante da Cidade Capital começar a tirar proveito da elevação da Cidade Velha a património da Humanidade e começar a dar assim os primeiros passos na preparação da candidatura do Plateau ao mesmo título. A Cidade da Praia deve elaborar e estabelecer uma agenda cultural em concertação com Ribeira Grande de Santiago. Há que haver complementaridade entre os dois municípios e não concorrência.
Sobre a bienal de artes também ainda nada saiu do papel, tudo se encontra no campo das intenções.

Bienal de dança
A Praia conta actualmente com alguns grupos de dança já com alguma experiencia e anos de dedicação, podemos destacar os grupos como Bibinha Cabral, Marina Vaz, Santa Cultura e um conjunto de jovens grupos de danças ligadas ao movimento Hip- Hop. Sem desprimor pelos outros grupos, mas pensamos que é de elementar justiça uma palavra de reconhecimento para com o excelente trabalho que tem sido feito pelo grupo Raiz de Polon. Trata de um grupo que já atingiu um nível de excelência. É preciso dar mais atenção à dança, é preciso dar mais atenção a o que tem sido feito de bom até hoje.
Mas se estamos a pensar em institucionalizar uma bienal de dança não podemos deixar de dar o mesmo tratamento ao teatro e ao cinema. O Grupo “Fladu Fla” é um oásis no deserto que tem sido o teatro na nossa cidade. Mas acreditamos que há potencial, há vontade de muita gente em melhorar o teatro da Capital. Será preciso apenas um empurrãozinho das autoridades nacionais e municipais. O programa apresentado aos munícipes não os contemplou. É uma falha grave o esquecimento destas duas importantes vertentes da arte mas ainda estamos a tempo de corrigir e dar o devido destaque aos mesmos. Ainda dentro do programa de realização das bienais deve-se envolver as escolas básicas e secundárias, realizando oficinas e workshops dos artistas com os alunos.
Já foi anunciado publicamente a primeira bienal de Dança para o próximo mês de Novembro em parceria com grupos do Estado do Ceará, Brasil, e com o alto patrocínio da Presidência da Republica e do Ministério da Cultura. Esperamos que venha a ser um sucesso e que seja o começo de uma verdadeira aposta na dança.

Reformatação do festival do Dia do Município
Em relação ao festival da Gamboa já tivemos uma primeira experiencia este ano. Se por lado houve melhorias em termos de segurança e limpeza, por outro lado houve um claro prejuízo para o comércio local com a drástica diminuição do tempo útil do espectáculo. A relação custo/horas de espectáculo foi excessivamente alta. A Câmara da Praia gastou mais de 40 mil contos para dois dias de espectáculo e 10 horas de emissão. Se compararmos com o ultimo Festival da Baia das Gatas, que contou com um orçamento de 25 mil contos para três dias de espectáculo e mais de 20 horas de emissão, é fácil concluir que foi sem dúvida o mais caro festival de sempre na história do nosso país.
Também ficou-se por esclarecer que critério foi utilizado na escolha da empresa que organizou o evento. Pelos elevados valores monetários em jogo exigia-se mais transparência neste processo. A organização do Festival da Gamboa e do Festival de Jazz deve ser assumida pela Empresa Municipal Praianima criado há já algum tempo mas que tarda em sair do papel.

Se as autarquias assumissem plena e conscientemente as suas responsabilidades enquanto agentes de promoção cultural, numa perspectiva de complementaridade em relação ao Ministério da Cultura, estariam a contribuir de forma eficaz para implementação de uma verdadeira política de valorização das nossas potencialidades e especificidades locais.

Vladmir Silves Ferreira
Líder da Bancada Municipal do PAICV-Praia

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